Toc..
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Foto por: Bruno Wolff |
Toc... toc...
Meus dedos sangram de tanto bater em sua janela.
Abra para mim. Deixe-me entrar. Trago dentro de mim um circo itinerante. Abra e
olhe. Eu me contorço com meus ossos e nervos enferrujados e quebro meu pescoço,
por você. Ando na corda bamba com meus pés calosos, lá em baixo o concreto
sorri para mim. Danço uma valsa triste com minha sombra sob sua janela. Faço
mil malabares com facas sem me importar de rasgar-me inteiro. Tudo isso para
que seus olhos repousem um segundo em mim.
Abra a janela e veja este palhaço triste. Tenho
tanto amor para dar que não sobrou uma gota para mim. Tudo por você. Abra a
janela. Toc... toc... Aqui fora está tão frio. Deixe-me entrar, eu suplico.
Lembra de quando nossos olhos se encontraram
brevemente pela primeira e última vez?
Agora estou aqui, desde sempre, esperando ver
surgir seu rosto na janela.
Estou com fome, pode me dar um pouco de amor e um
copo de atenção? Aqui está tão frio e me sinto tão só! Esses palhaços e
bailarinas não são nada para mim. Escarneço deles e eles de mim.
Ei... por favor, abra a janela. Me veja, eu existo!
Pode me jogar um cobertor? Ele me protegerá dos
olhos escarnecedores que me rodeiam.
Toc...toc...
Minhas lágrimas secaram e o que restou neste rosto
de palhaço é uma careta congelada de tristeza.
Toc... toc...
Sua janela está tão perto das estrelas, e eu aqui
sob as sombras das árvores. Você, envolta pela luz, e eu envolto pela dor.
Toc... toc...
Abra só uma festinha, ver o brilho do seu olho
bastará por esta noite sem fim.
Toc..toc...
Cadela infame, eu a amo tanto. Abra a janela e
receba o meu amor mofado. Engula-o todo e se engasgue. Só assim terei minha
recompensa por amar-te tanto. Toc...toc...
Por Bruno Wolff.
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